No dia 09 de Agosto o Dr. Drauzio Varella publicou em seu canal oficial no Youtube um vídeo com o título “A armadilha do cigarro eletrônico” e sendo um dos principais objetivos da DIRETA ampliar o debate acerca de produtos para consumo de nicotina com risco reduzido, às vezes se faz necessário apontar erros de informação que são veiculadas por influenciadores, com o objetivo de trazer ao público clareza no entendimento da problemática do tabagismo.
Dr. Drauzio Varella é um médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, conhecido por popularizar a informação médica no Brasil, através de aparições em programas de rádio, TV e pela Internet, com um site e canal no Youtube. Profissional que deveria se pautar sempre em ciências e informação para colaborar com a aculturação de tantos que o tem como fonte de informação em saúde. O vídeo “A armadilha do cigarro eletrônico”, disponível em https://youtu.be/CBNNpZ-PJZQ está repleto de equívocos.
A comunicação feita pelo Dr. Drauzio , para a finalidade de redução de danos em parte é positiva, pois um dos principais pontos que precisamos comunicar aos jovens é sim, que cigarro eletrônico causa dependência, danos à saúde e custo social.
Na redução de danos ao tabagismo, sabemos que o ideal é não haver iniciação, se houver que seja o mais tarde possível, e se ocorrer, que seja com produtos de menor risco à saúde.
De fato, como colocado pelo Dr. Drauzio , o cigarro comum é a pior escolha para um tabagista e de fato existe o cigarro eletrônico, sem alcatrão, que reduz de forma significativa a exposição às substâncias presentes na fumaça do cigarro convencional. A desinformação é que ele trata do cigarro eletrônico como inalação de fumaça fria, o que é um erro básico, pois esses dispositivos feitos para inalação da nicotina não têm combustão, ou seja, a inalação é de aerossol proveniente da destilação contendo principalmente vapor de água, enquanto no cigarro convencional temos a degradação térmica do tabaco formando o alcatrão e fumaça, com altas doses de substâncias que causam câncer, doenças cardiovasculares, efeitos respiratórios e problemas reprodutivos. Para quem é tabagista e não conseguiu cessar esse vício tão prejudicial, essa mudança de fumaça para vapor pode representar sim a redução significativa de danos à saúde.
Em termos de mensagem, o vídeo traz que a indústria do tabaco é quem criou esse produto com a finalidade de iniciar jovens no vício da nicotina. Não temos dúvidas de que a indústria do tabaco deve ser penalizada ao máximo em relação aos crimes contra a saúde pública que cometeram no passado. Porém o cigarro eletrônico foi criado em 2003 por um tabagista chinês Hon Lik, que fumava 3 maços de cigarro por dia e que seu pai também tabagista morreu de câncer de pulmão. A inovação surgiu para salvar vidas de tabagistas, que não conseguiam parar com o vício da nicotina.
A indústria se aproveitou dessa invenção, para reinventar seus produtos, tanto de nicotina para inalação por vaporizadores, quanto de tabaco aquecido, ambos que tiraram da equação de risco a parcela da fumaça do produto convencional.
Hoje a iniciação continua a ocorrer, seja com cigarros mais baratos do mercado paralelo, com cigarro de palha, do narguilé na roda de amigos, ou ainda de cigarros eletrônicos contrabandeados e disponíveis no mercado informal. Todos esses trazem a nicotina como elemento de prazer e vício.
A comunicação do Dr. Drauzio tem como consequência dificultar o diálogo sobre a importância de se regular tais produtos, impossibilitando que tabagistas migrem para produtos de risco reduzido. Quando pensamos em cigarro eletrônico ou tabaco aquecido, estamos querendo combater a combustão dos produtos de tabaco, que continuam sendo nocivos, mas que podem ser uma alternativa positiva em termos de saúde pública, se regulamentados, se comunicados de forma clara à população, com restrição de compra e de uso.
DIRETA.ORG
Abaixo as falas do Dr. Dráuzio Varella:
“Cigarro eletrônico é mais uma invenção da indústria do tabaco. Indústria do tabaco é a mais criminosa da história do capitalismo. Por quê? Porque eles inventaram um dispositivo, que foi o cigarro, para administrar nicotina e fizeram uma publicidade maciça durante o século passado para viciar as pessoas. Era bonito fumar.
Hoje todo mundo sabe que o cigarro comum faz mal para o organismo, e muito mal, e que provoca muitas mortes. Os homens que fumam têm em médias 12 anos a menos de expectativa vida. E as mulheres 10 anos a menos.
Aí a indústria fez o que, fez o cigarro eletrônico, que nada mais é que um dispositivo para administrar a nicotina, com a vantagem que a fumaça vem fria, e que você não tem alcatrão que causa tantos malefícios no cigarro comum.
Mas o inconveniente o que é? É que você pega muitos jovens e muitas jovens que não fumariam cigarro comum, que acham que o eletrônico tudo bem, que pode fumar porque esse não faz mal.
Na verdade, o que está acontecendo é que na hora que você fuma o eletrônico, você está ficando dependente de nicotina.
E a dependência a gente leva pela vida inteira. Eu fumei dos 17 aos 36 anos e eu sou dependente de nicotina até hoje. Eu só não uso nicotina porque eu não forma de jeito nenhum. Mas se acender um cigarro agora, embora eu tenha parado há mais de 40 anos, eu vou voltar a fumar, tenho certeza absoluta.
Não façam isso de jeito nenhum. É uma estupidez a gente ficar dependente de uma droga que não dá barato nenhum, da só necessidade de fumar de novo, e cada vez mais, e cada vez mais, sem nenhuma necessidade. Você vai carregar essa dependência pela vida inteira. Na verdade, um refil daqueles, varia de um fabricante para o outro, tem em média um maço inteiro de cigarros.
O cigarro eletrônico é mais uma das armadilhas da indústria do cigarro. Não caia nessa de jeito nenhum. Não seja trouxa, né?”