Uma pesquisa, conduzida pela Ipsos, terceira maior empresa de pesquisa de mercado do mundo, feita com quase 27.000 consumidores de cigarros em 28 países, revelou que 90% dos brasileiros que fumam pensam (equivocadamente) que os cigarros eletrônicos são tão ou mais prejudiciais do que cigarros tradicionais, opinião que não é sustentada pela ciência.
Já temos uma grande quantidade de evidências científicas que concluem que, apesar de serem produtos que fazem mal à saúde, oferecem apenas uma pequena fração dos riscos do tabagismo e são a ferramenta mais eficaz para se parar de fumar, em comparação com remédios, gomas de mascar e adesivos de nicotina, com potencial de ajudar milhões a largar o fumo para diminuir muito os danos à saúde.
Então por que há tanta desinformação no Brasil sobre os cigarros eletrônicos?
Um dos motivos pode ser a campanha difamatória que existe no país contra os produtos, realizada por diversas organizações privadas e muitas vezes financiadas por capital externo. O principal pagador das despesas é a Bloomberg, megacorporação global e uma grande doadora de recursos para a OMS – Organização Mundial da Saúde, relação que é criticada por especialistas internacionais, por influenciar protocolos e políticas de saúde pública em diversos países, principalmente os de baixa e média renda, como o Brasil.
A Bloomberg atua principalmente através de duas subsidiárias, a Campaing for Tobacco-free Kids, focada principalmente nos Estados Unidos e a Vital Strategies, esta última mais ativa no Brasil através de parceiros como a ACT – Aliança para Controle do Tabaco, com sua logo figurando em muitos materiais publicados que fazem campanha contra os cigarros eletrônicos e listada como parceira oficial.
No website Tobacco Control Grants, a Bloomberg conta vantagem de já ter destinado, desde 2005, mais de US$ 1,58 bilhão (quase 9 bilhões de reais) para apoiar iniciativas em países de baixa e média renda.
Até o ano passado, o website continha uma seção de “projetos anteriormente financiados”, que hoje está fora do ar. Mas ainda é possível acessar as informações através do “Wayback Machine”, um website especializado em gravar páginas da Internet.
Em 28 de Janeiro de 2023 era possível conferir que a ACT já recebeu nada menos do que 15 bolsas de investimentos, cujo valor mínimo seria de U$ 25.000 dólares (R$ 139.000 reais) e que podiam chegar até U$ 250.000 dólares (quase R$ 1.4 milhões de reais) por ano e por projeto.
Totalizando os investimentos recebidos temos um mínimo de U$ 375 mil dólares ou R$ 2 milhões de reais, podendo chegar a U$ 3.75 milhões de dólares ou R$ 20 milhões de reais. Não há uma informação pública do valor exato recebido.
Recentemente, mais uma fase de subsídios foi lançada pela Bloomberg, onde o Brasil figura entre os 10 países prioritários para o destino dos recursos, ao lado de outras nações alvo como Índia, China, México e Filipinas. Este último resistiu aos ataques contra os cigarros eletrônicos e a interferência externa da Bloomberg, regulamentando os produtos e permitindo um comércio controlado, ao contrário do Brasil.
Nesta nova fase, a Bloomberg está procurando empresas que possam “Apoiar a manutenção da proibição de dispositivos eletrônicos para fumar” com pagamentos mínimos de U$ 30.000,00 (quase R$ 170 mil reais) e máximos de U$ 400.000,00 (mais de R$ 2.2 milhões de reais) por projeto, em prazos de 12 a 24 meses.
O documento informa expressamente que não serão financiados projetos de pesquisa médica ou acadêmica, tampouco programas educacionais ou atividades que sirvam apenas como campanhas informativas. Então o que sobra pra se fazer com tanto dinheiro?
É importante lembrar que os fabricantes de cigarros convencionais defendem a regulamentação dos produtos no Brasil, isso faz com que a ACT acuse-os com frequência de realizar lobby. O Wikipedia nos diz que “Lobismo, também referido como lóbi, é a atividade de influência, ostensiva ou velada, por meio da qual um grupo organizado, por meio de um intermediário, busca interferir diretamente nas decisões do poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos.”
A ACT não assume fazer “lobby”, mas diz fazer “advocacy” e escreve em seu website que “Advocacy é um conjunto de ações desenvolvidas para influenciar os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e a sociedade, na formulação, aprovação e execução de políticas governamentais.”
Para sustentar todo esse trabalho, é preciso de dinheiro, o que não parece faltar para a organização, que é extremamente ativa nas mídias sociais, com publicações frequentes, composição de imagens, gráficos e vídeos.
A ACT já ofereceu no X (antigo Twitter) bolsas de R$ 50.000,00 para projetos alinhados com a proibição dos cigarros eletrônicos no Brasil e fez premiação de Iphone, Ipad e Apple Watch para jovens que enviassem vídeos atacando os produtos. Os recursos também parecem financiar iniciativas como O Joio e o Trigo, site que frequentemente faz matérias contra os cigarros eletrônicos e a indústria do tabaco e cujo conteúdo é impulsionado em parceria com a ACT.
Também vemos grandes canais do Youtube como o “Olá, Ciência!”, com mais de 2 milhões de inscritos, impulsionando as ações da ACT e intensificando a campanha contra os cigarros eletrônicos, que muitas vezes se baseia em informações fora de contexto, com argumentos como “não são menos prejudiciais do que fumar”, “são uma porta de entrada ao tabagismo”, “causam Evali” e outras informações falsas, o que pode ser facilmente conferido através das mais atualizadas evidências científicas e dados demográficos dos países que já regulamentam os produtos.
Recentemente, a Senadora Soraya Thronicke passou a ser alvo da organização, desde que apresentou o Projeto de Lei Nº 5008, que propõe permitir o comércio de cigarros eletrônicos de forma controlada, como mais de 80 países já estão fazendo.
O projeto está recebendo grande apoio dos brasileiros, principalmente consumidores, com mais de 17.000 votos a favor do projeto, 4.000 a mais do que os votos contrários, no entanto em seu Instagram, a ACT ataca a Senadora a chamando de “musa do fumo” e tentam confundir os leitores com informações falsas, como uma suposta ligação dos cigarros eletrônicos com o aumento do consumo de cigarros tradicionais.
O que vemos é exatamente o contrário, em nenhum país dos mais de 80 que já permitiram o comércio com regras rígidas e controle, há um aumento no consumo de cigarros, o que comprovaria o argumento de “porta de entrada ao tabagismo”. O que ocorre é uma diminuição do consumo de cigarros tradicionais e uma migração de adultos fumantes para os cigarros eletrônicos, muito menos prejudiciais.
O ataque acontece às vésperas da votação do PL Nº 5008 na CAE – Comissão de Assuntos Econômicos, ponto de partida para que a iniciativa possa caminhar para uma aprovação.
Com mais de 16 mil publicações nas mídias sociais, peças publicitárias de impacto, envolvimento de profissionais de saúde, parcerias com organizações de renome, influência e representatividade em cargos importantes em diversas esferas, certamente há grande eficácia na comunicação da mensagem dada a estrutura financeira por detrás da empresa, o que torna a questão ainda mais grave, porque tudo isso vai contra o benefício da saúde pública brasileira e prejudica milhões de pessoas.
Quando buscamos as fontes e estudamos a mensagem a fundo, vemos que a verdade é o oposto da propaganda realizada. Demonizar a indústria tabagista, como se fosse a dona dos cigarros eletrônicos, é uma tática mentirosa e mesquinha, pois não foram os inventores e sequer detém a maior parte do mercado.
A doença Evali, um dos argumentos preferidos de quem apoia a proibição, nunca teve ligação com cigarros eletrônicos contendo somente nicotina, o que é explicado pelo próprio CDC – O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Ao contrário do que dizem, quem usa cigarro eletrônico absorve menos nicotina por tragada do que no comparativo com um cigarro convencional.
Quando se fala em saúde, extensas revisões científicas independentes já foram realizadas e não há dúvidas de que apesar de não serem isentos de riscos, os cigarros eletrônicos são muito menos prejudiciais do que fumar e a alternativa mais eficaz para se parar de fumar.
Países como os EUA viram o uso entre os adolescentes despencar de 27,5% para menos de 8% após a regulamentação, conquistando o menor índice de consumo de nicotina adolescente dos últimos 50 anos.
A Suécia diminuiu em quase 40% o diagnóstico de câncer de pulmão, uma das principais doenças ligadas ao tabagismo, graças a produtos como os cigarros eletrônicos que são regulamentados há muitos anos. A Suécia está prestes a se tornar o primeiro país do mundo considerado livre do fumo, quando atinge a marca de somente 5% de tabagismo, de acordo com a OMS.
No mesmo caminho está a Nova Zelândia, que adotou regras similares à Inglaterra. No Reino Unido, os cigarros eletrônicos são parte do programa oficial de saúde inglês, como o nosso SUS, e distribui produtos gratuitamente para adultos fumantes.
A campanha contra os cigarros eletrônicos no Brasil ignora o consenso científico mundial e dados oficiais de mais de 80 nações que já permitem um comércio controlado, o que leva o brasileiro ao erro e ajuda a manter os produtos proibidos, o que por consequência fortalece o mercado ilegal, que enriquece o crime organizado e faz vítimas reais, com os menores de idade sendo os alvos preferidos dos criminosos.
Com cada vez mais frequência vemos pessoas ficando doentes rapidamente após o uso desses produtos sem qualquer controle sanitário, sendo vendidos em qualquer esquina, por todo o país.
Isso sem falar nos bilhões perdidos todos os anos em impostos, renda e empregos, que deixam de ser gerados e poderiam ser usados para campanhas de conscientização e combate ao tabagismo, reduzindo a carga do SUS e principalmente, as doenças que causam dor e sofrimento não apenas para quem as sofre, mas para toda a família.
Não faltam argumentos, provas e evidências científicas de que permitir um comércio rigidamente controlado de cigarros eletrônicos é o melhor caminho, mas vivemos em um mundo em que a percepção às vezes é mais importante do que a verdade e a propaganda e o marketing saem na frente. A campanha estruturada e bem financiada contra os produtos fazem vítimas reais e geram perdas inimagináveis ao nosso país. No futuro a história lembrará desse escândalo sanitário que o Brasil vive, mas será que os causadores serão responsabilizados?