Artigo escrito por Tamar M. J. Antin, Geoffrey Hunt e Rachelle Annechino (membros do Center for Critical Public Health na Califórnia, EUA) e publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health (Qualis A2). Traduzido cedida por João B. Camargo Junior.
O artigo inicia sua argumentação indicando que evidências atuais sugerem que os produtos de tabaco não combustíveis, como os cigarros eletrônicos, embora não sejam totalmente isentos de riscos, são relativamente menos prejudiciais em comparação com aqueles que são combustíveis. Assim, trocar o cigarro por um produto não combustível pode trazer um efetivo benefício para a saúde. Essa abordagem de prevenção e controle, que envolve a substituição de formas mais prejudiciais de nicotina por aquelas menos prejudiciais, é conhecida como redução de danos do tabaco.
Embora algumas formas de prevenção, tratamento e controle do tabaco também sejam consideradas redução de danos, como as terapias de reposição de nicotina e as leis antifumo, na maioria das vezes os esforços de prevenção do tabaco nos EUA são moldados pelo preceito que “não existe tabaco seguro”. Os autores ponderam que embora seja verdade que nenhuma forma de nicotina é livre de risco, este preceito falha em acomodar as circunstâncias dos adultos e jovens adultos que de outra forma fumariam cigarros e que podem ser (ou poderiam ser) motivados a reduzir os danos associados ao consumo de produtos de tabaco combustível, mas ainda não estão dispostos ou interessados em abandonar totalmente o uso de nicotina.
Enquanto a comunidade de saúde pública permanece envolvida em debates, as evidências sugerem que estratégias de redução de danos já estão sendo praticadas por muitas pessoas que usam nicotina e produtos do tabaco. Infelizmente, essa adoção está ocorrendo com pouca orientação e comunicação conflitante das agências de saúde pública dos EUA. Isso porque as mensagens de prevenção do tabaco que consideram somente que “não existe tabaco seguro” não apenas se chocam com as evidências científicas atuais sobre o risco relativo da nicotina e dos produtos do tabaco, mas também deslegitimam a prática de redução de danos do tabaco e as estratégias reais que as pessoas usam para navegar pelos riscos relacionados ao uso de cigarros.
A pandemia do COVID-19 revelou o quão importante é a confiança do público nas instituições de saúde pública. Essa confiança há muito é reconhecida como crucial para garantir o sucesso dos programas de saúde pública, incluindo programas de controle do tabagismo. Porém, até o momento, poucas pesquisas examinaram a confiança nas agências governamentais responsáveis pela prevenção e cessação do tabagismo. Apesar das melhores intenções das agências de controle do tabaco, as pesquisas disponíveis indicam que a confiança no controle do tabaco entre pessoas que usam nicotina e produtos do tabaco ou que têm probabilidade de começar a usá-los pode ser baixa.
Portanto, mais do que nunca, refletir sobre as formas de melhorar a prática de saúde pública é crucial, e parte dessa melhoria pode incluir retornar aos princípios básicos de não causar danos. As mensagens antitabagismo baseadas no preceito de que “não existe tabaco seguro” correm o risco de não apenas estigmatizar a nicotina e o uso do tabaco, mas, mais importante, aqueles que o usam. Em vez disso, é preciso repensar os esforços de prevenção do tabagismo para responder de melhor forma aqueles que são os destinatários dos esforços de prevenção do tabaco.
Uma mudança significativa e importante nesse sentido seria reconhecer que as estratégias de redução de danos são válidas e importantes para proteger a saúde de todos. Isso porque elas se baseiam na realidade de que as pessoas, ao adotar certas práticas, avaliam prioridades concorrentes, e a saúde é apenas uma entre muitas. A redução de danos é uma abordagem que responde às experiências das pessoas e pode fornecer recursos para ajudá-las a reduzir os danos que podem estar associados a práticas como fumar. Os autores finalizam o artigo afirmando que somente respeitando as prioridades de saúde dos indivíduos será possível cultivar a confiança e desenvolver esforços de controle do tabaco que sejam baseados em sua realidade de vida e que atendam suas necessidades.
Link para o artigo original: https://www.mdpi.com/1660-4601/18/11/5560