A DIRETA apresenta abaixo crítica de Gerry Stimson ao último relatório da OMS. Se você encontrar algum erro de tradução e quiser nos avisar para melhora do texto, por favor entre em contato.
No Último dia 27 de Julho a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou seu último relatório sobre os avanços das propostas para o controle do tabagismo, apresentadas em sua Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco de 2005. Apesar das conquistas relativas, a OMS decidiu mais uma vez manter o foco exclusivamente na cessação – abstinência para o consumo de cigarros convencionais.
Financiada, especialmente, por uma doação bilionária de Michael Bloomberg (ex-prefeito de Nova York, filantropo e empresário norte-americano), a OMS acaba por restringir a agenda global no enfrentamento de um problema de saúde pública que mata por volta de 8 milhões de pessoas, anualmente, no mundo todo, a uma única estratégia, que já vem sendo comparada – em suas ambiguidades – à Guerra às Drogas, imposta pelos EUA no enfrentamento do uso de substâncias psicoativas consideradas ilícitas. Diante do que é considerado um grave equívoco, algumas reações começam a surgir.
Gerry Stimson, Professor Emérito do Imperial College of London e co-diretor do Projeto “Global State of Tobacco Harm Reduction” escreveu uma crítica que apresentamos resumidamente abaixo (tradução livre).
OMS disfarça décadas de fracassados esforços na redução do tabagismo com uma mal orientada guerra a alternativas mais seguras.
- O número mundial de fumantes em 2021 não é menor do que quando a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco foi lançada (2005)
- Instituição Global insiste em apresentar produtos mais seguros contendo nicotina como uma ameaça – quando evidências mostram que oferecem uma oportunidade significativa ajudando adultos a parar de fumar
- Redução de Danos é, há tempos, uma política integrada às respostas da OMS à questão da epidemia do HIV/Aids relacionada ao uso de drogas – mas não é aceita para o tabagismo, que mata 8 milhões de pessoas/ano no mundo todo.
A OMS e seu mais significativo doador individual aos esforços de cessação (abstinência para consumo de cigarros), o bilionário norte-americano Michael Bloomberg, têm tentado distrair a opinião pública de anos de fracasso da estratégia MPOWER (conjunto de medidas propostas pela OMS no enfrentamento dos problemas relacionados ao tabagismo) focalizando, em vez disso, no que a KAC – Knowledge Action Change (agência de saúde pública sediada no Reino Unido) e outros observadores estão chamando de uma nova “guerra contra a nicotina”.
Na publicação de seu 8º Relatório Anual sobre a epidemia global do tabaco, a OMS continua com sua insistência equivocada de afirmar que vapes (cigarros eletrônicos ou vaporizadores), SNUS (pasta de nicotina usada entre a bochecha e gengiva), bolsas de nicotina e aparelhos de tabaco aquecido, conhecidos como produtos de nicotina mais seguros, representam uma ameaça. Esta postura ignora evidências internacionais independentes crescentes que mostram como estes produtos oferecem a milhões de fumantes adultos a oportunidade de interromper o consumo do mortal tabaco queimado.
Mais de um bilhão de pessoas continuam a fumar no mundo todo e aproximadamente 8 milhões de vidas são perdidas anualmente para as doenças relacionadas ao consumo do tabaco, números que se mantêm inalterados por 2 décadas. Incapazes de demonstrar que sua estratégia para o controle do tabaco tem apresentado resultados significativos – o mais importante seria um declínio significativo no nº de fumantes – a OMS concentra-se, ao contrário, em quantos países implantam as medidas propostas pelo MPOWER (medidas de monitoramento e prevenção ao uso do tabaco; proteção de pessoas em relação ao tabaco queimado; oferta de ajuda para interrupção do uso; advertência sobre os perigos do uso do tabaco; proibição de propagandas e patrocínios; aumento de taxas sobre produtos de tabaco).
Em uma avaliação mais detalhada, mesmo o progresso nas medidas MPOWER é desanimador. A OMS relata que 104 países introduziram uma ou mais medidas propostas desde 2007, no ponto mais alto de sucesso. Mas, também reconhece que 41 dos 49 países que não implantaram nenhuma das medidas são países de baixa e média renda. Sabemos que 80% dos fumantes do mundo estão concentrados nestes países. São países menos capazes de lidar com a carga de doenças resultantes do tabagismo ou de implantar a mais cara e eficaz das medidas do MPOWER – oferecer tratamento para interrupção do uso de tabaco.
É sabido que as pessoas fumam para obter os prazeres gerados pela nicotina, uma substância que oferece baixo risco. Não é a nicotina que causa câncer ou outras doenças relacionadas ao tabagismo, mas sim as milhares de toxinas resultantes da queima do tabaco. Produtos de nicotina mais seguros oferecem a fumantes adultos que não conseguem parar, outras formas de uso de nicotina que são substancialmente menos danosas que fumar cigarros convencionais. Esta abordagem é conhecida como Redução de Danos.
Com essa última publicação, a OMS mais uma vez fortaleceu sua campanha contra produtos de nicotina mais seguros. Simplesmente declarando que “sistemas eletrônicos de entrega de nicotina são prejudiciais” e incentivando os países a promulgarem proibições ou políticas restritivas, o Diretor Geral da OMS Dr. Tedros Adhanom ofusca o papel que a vaporização pode desempenhar, se usada como alternativa de dano reduzido ao fumo. Vaporar é reconhecido pela Saúde Pública Inglesa como 95% mais seguro que fumar. Nenhum país atualmente proíbe a venda de cigarros queimados, conhecidos por matar pelo menos metade de seus usuários.
Embora a OMS tenha empregado a Redução de Danos (RD) em grande parte do trabalho de saúde pública, incluindo sua resposta ao uso de drogas e HIV/Aids, tem adotado agora um padrão ideológico contra a RD ao tabaco. Um de seus maiores doadores e Embaixador Global da OMS para doenças não transmissíveis, o bilionário Michael Bloomberg é um ferrenho adversário de produtos de nicotina mais seguros, como os cigarros eletrônicos.
“O foco autocomplacente da OMS na estratégia em lugar de nos resultados indica a falta de visão e ambição que sustenta a postura internacional do controle do tabaco. Este relatório não oferece surpresas e nenhuma esperança para os mais de um bilhão de fumantes do mundo, que precisam e merecem o melhor.”, afirma o Professor Gerry Stimson. E, ainda:
“Que essa Organização esteja agora buscando reenergizar os esforços para o controle do tabaco, pelo encorajamento dos países a decretar proibições ou políticas excessivamente restritivas sobre produtos de nicotina mais seguros é irresponsável e ilógico. Isto fará com que milhões continuem a fumar, milhões continuem a morrer prematuramente e milhões de cigarros continuem a ser vendidos.”
É preocupante que esse documento, provavelmente, indique a direção que a OMS pretende defender na 9ª Conferência das Partes (COP9) em Novembro próximo, um encontro de signatários da Convenção Quadro do Controle do Tabaco (CQCT). Falando do ponto de vista do Reino Unido, onde o vaping é promovido por autoridades de saúde e já ajudou milhões de fumantes a parar de fumar, Professor Stimson apelou aos países que são a favor da RD para tabaco que essa estratégia seja parte da resposta global ao tabagismo. Ele disse ainda:
“Pesquisas recentes sobre o Estado Global da Redução de Danos ao tabaco revelaram que são estimados em 98 milhões de fumantes no mundo os que já deixaram de fumar tabaco queimado e mudaram para produtos mais seguros de nicotina. Ainda assim, nenhum destes usuários será representado na COP9, em Novembro.”
“A OMS insiste em ver a nicotina mais segura como uma ameaça e não como uma oportunidade de saúde pública. Seu avanço injustificado e equivocado em direção a uma “guerra contra a nicotina” deve ser interrompido. Redução de Danos, conforme citada na própria CQCT, deve ser instituída como estratégia central de controle do tabagismo, ocupando seu lugar junto com os esforços para reduzir a demanda e a oferta.”
O Global State of Tobacco Harm Reduction estima que 68 milhões de pessoas no mundo usam vape, que 20 milhões usam produtos de tabaco aquecido e que 10 milhões usam SNUS. Entretanto, comparados ao 1,1 bilhão de pessoas que ainda fumam, isto equivale a apenas 9 usuários de produtos de nicotina mais seguros para cada 100 fumantes.
O que pensa a Direta:
- Concordamos com a necessidade da OMS inserir claramente a Redução de Danos para o tabaco em suas recomendações, fazendo valer o que defende na Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT).
- Preferimos usar o termo “produtos de menor dano” que “produtos mais seguros”, na medida em que reconhecemos a existência de algum grau de danos em qualquer forma de consumo de tabaco/nicotina.
Confira abaixo o comentário em língua original
WHO distracts from decades of failed efforts to reduce smoking with misguided war on safer alternatives
● No fewer smokers around the world in 2021 than when the WHO’s Framework Convention on Tobacco Control was enacted
● Global institution insists safer nicotine products pose threat – when evidence shows they offer significant opportunity to help adult smokers quit
● Harm reduction long integrated into WHO response on drugs and HIV/AIDS – but not smoking, which kills 8 million a year
The World Health Organization (WHO) and its single most significant funder for anti-smoking efforts, US billionaire Michael Bloomberg, have today sought to distract from years of failure under the WHO’s MPOWER tobacco control strategy by focusing instead on what UK-based public health agency Knowledge Action Change (KAC) and other observers are calling a new ‘war on nicotine’.ii
On publication of the WHO’s ‘eighth annual report on the global tobacco epidemic’, the organisation is continuing its misguided insistence that vapes (e-cigarettes), snus, nicotine pouches and heated tobacco devices, collectively known as safer nicotine products, are a threat. This ignores the growing international, independent evidence that they offer millions of adult smokers the opportunity to quit deadly combustible tobacco.iii
1.1 billion people continue to smoke worldwide and 8 million lives are lost annually to smoking-related disease, figures that have remained static for two decades. Unable to demonstrate that its tobacco control strategy has resulted in meaningful outcomes – the most important of which would be substantial declines in smoking – the WHO focuses instead on how many countries implement its ‘MPOWER’ measures (standing for ‘Monitoring tobacco use and preventive measures; Protecting people from tobacco smoke; Offering help to quit; Warning about the dangers of tobacco; Enforcing bans on advertising, promotion and sponsorship; and Raising taxes on tobacco’).
On closer inspection, even progress on the MPOWER measures is underwhelming. The WHO reports that 104 countries have introduced ‘one or more MPOWER measures at the highest level of achievement’ since 2007, but also states that 41 of the 49 countries that have not implemented a single measure are low and middle income countries (LMIC). 80 per cent of the world’s smokers live in LMICs. These are the countries least able to cope with the disease burden of smoking or implement the most expensive and effective of the MPOWER measures – ‘offering help’ to quit.
People smoke to obtain nicotine, a substance which carries a low risk profile. It is not nicotine that causes cancer or other smoking-related disease, but the thousands of toxins released when tobacco burns. Safer nicotine products offer adult smokers who cannot quit ways to use nicotine that are substantially less harmful than smoking. This approach is called tobacco harm reduction.
With this latest release, the WHO has again ramped up its campaign against safer nicotine products.
By stating simply that “electronic nicotine delivery systems are harmful” and calling for states to enact bans or restrictive policies, WHO Director-General Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus obscures the role that vaping can play if used as a reduced harm alternative to smoking. Vaping is recognised by Public Health England as at least 95 per cent safer than smoking.iv No countries currently ban the sale of combustible cigarettes, which are known to kill at least half of all users.v
While the WHO has long employed harm reduction across much public health work, including its response to drug use and HIV/AIDS, it has adopted an ideological stand against tobacco harm reduction. One of its biggest donors and WHO Global Ambassador on Non-Communicable Diseases, billionaire businessman Michael Bloomberg, is a staunch opponent of safer nicotine products such as e-cigarettes.
Co-director of the Global State of Tobacco Harm Reduction (GSTHR) project and Emeritus Professor at Imperial College, London, Gerry Stimson said: “The WHO’s self-congratulatory focus on strategy over outcomes indicates the lack of vision and
ambition underpinning the international tobacco control establishment. This report offers no surprises and no hope for the world’s 1.1 billion smokers, who need and deserve better.
“That the organisation is now seeking to re-energise lacklustre tobacco control efforts by encouraging nation states to enact bans or overly restrictive policies on safer nicotine products is both irresponsible and illogical. It will lead to millions continuing to smoke, millions continuing to die prematurely, and millions more cigarettes being sold.”
It is concerning that this release likely indicates the direction that the WHO hopes to take tobacco control policy in November at the Ninth Conference of the Parties (COP9), a meeting of signatories to the WHO Framework Convention on Tobacco Control (FCTC).vi Speaking from the UK, where vaping is promoted by health authorities and has already helped millions of smokers to switch, Professor Stimson called on countries which favour tobacco harm reduction to ensure that it forms part of the global response to smoking.
Professor Stimson continued:
“Recent Global State of Tobacco Harm Reduction research has revealed that there are an estimated 98 million consumers worldwide who have already quit deadly combustible tobacco and switched to safer nicotine products.vii Yet none of these consumers will be represented at the COP9 meeting this November.
“The WHO persist in seeing safer nicotine as a threat and not a public health opportunity. Its unwarranted and misguided mission creep towards a ‘war on nicotine’ must be halted. Harm reduction, as named in the FCTC itself,viii must be instated as a core tobacco control strategy, taking its place alongside efforts to reduce demand and supply.”
The GSTHR estimates that worldwide, there are 68 million people who vape, 20 million who use heated tobacco products and 10 million who use snus. However, compared to the 1.1 billion people still smoking, this amounts to only nine users of safer nicotine products for every 100 smokers.ix